domingo, 21 de agosto de 2011

Na trilha de Naufragados (de novo!)

INÍCIO DA TRILHA: 14:30h

Engana-se quem pensa que basta fazer um percurso uma vez para se conhecer o caminho. Uma trilha reserva detalhes e mistérios que se revelam aos poucos. Refazer trechos é reviver a jornada. Por isso, a segunda vez que fizemos a Trilha de Naufragados - no sábado, 20 - não foi apenas um dèjá vu. Se antes nos aventuramos sozinhos, agora trouxemos um peso extra (veja na foto abaixo, roendo as unhas) e nos juntamos ao grupo do Fazendo Trilhas.


A Trilha de Naufragados é uma das mais antigas de Florianópolis. Na verdade, esses caminhos se confundem com a própria história da cidade. A localidade é cercada de lendas e relatos que datam do século 16, quando pelo menos dois grandes naufrágios aconteceram naquelas águas. Em 1516, uma das embarcações da esquadra de Juan Díaz de Solís veio a pique, mas alguns sobreviveram e se refugiaram na praia, junto com os índios carijós. Nove anos depois, o navio São Gabriel afundou por ali, o que reforçou a fama do lugar. Não à toa, passaram a chamar de Ponta dos Naufragados, o que não impediu que mais desastres acontecessem por ali nos séculos seguintes.

 
No extremo sul da Ilha de Santa Catarina, a ponta e a praia dos Naufragados mantêm-se isoladas na medida do possível. Não existe energia elétrica nas poucas casas e alguns costumes permanecem centenários. Para chegar até lá, deve-se ir até a Caieira da Barra do Sul e seguir por uma trilha íngreme no meio da mata. Um caminho agradável, mas que faz os caminhantes suarem e perderem o fôlego...

 
Quando os trilheiros estão prestes a desmaiar, param para tirar fotos (e serem atendidos pelos paramédicos de plantão).

 
Tem gente que não perde o ânimo e até faz dancinha de Smurfs...

Embora o caminho exija tônus muscular e bom preparo físico, o pequeno Vinicius não se queixa: está cercado de fãs... 

 
Desta vez, a trilha foi super-ultra-mega-giga-familiar. Foram amigos, filhos, pais e até a Aika, irriquieta mascote da Cacau Timm.

Diego, por sua vez, fez a trilha como quem faz promessa: colocou a camisa do time com devoção, rezando para um bom resultado no domingo. (Reze mais, Diego...)

Mas dizíamos que Naufragados é carregada de história. Para além de cemitério de navios, a localidade era estratégica para a defesa da Ilha. Em 1861, foi instalado um farol para orientar os navegantes e para reforçar o sistema de segurança da região. Próximo dali, surgiu o Forte Marechal Moura de Naufragados e o conjunto de canhões que até hoje estão apontados para o mar.

Do farol, tem-se uma das vistas mais sensacionais do sul de Florianópolis. Mas lá também é uma esquina dos muitos ventos que varrem a Ilha.

Na verdade, dizem que o Vento Sul mora por ali. Um vento que levanta a saia das moças, que remexe as folhas do quintal, que arrebenta a linha da pipa, que enverga as varas de pescar...

Um vento que traz más notícias, que sopra segredos, que carrega bons augúrios e que coloca os cabelos pra cima...

 O mirante do farol permite visões como a de cima...

... e ao lado dos canhões de 120 milímetros, construídos em 1893, pode-se ter essa vista. Ou esta mira...

 
O precário equilíbrio das pedras de hoje faz lembrar a fragilidade da Ilha de séculos atrás. O sistema de defesa não funcionou. Houve invasões, disputas aconteceram, e a Ilha foi se reconfigurando. Não tanto nos seus contornos, mas no seu interior.

Hoje, a Ilha de Santa Catarina tem 400 mil habitantes e sofre outras invasões: de turistas no veraneio; de quem busca qualidade de vida ao longo do ano inteiro.

A Ilha sofre novas invasões, e a Trilha de Naufragados continua sendo a única ligação terrestre entre a ponta que assistiu tantos barcos adernarem e os caminhos que partem do sul. Curiosamente, quase quinhentos anos depois, as pessoas continuam caminhando por ali e se afogando naquelas belezas naturais...

FINAL DA TRILHA: 18:30h