domingo, 17 de abril de 2011

Trilha Daniela e Carijós









INÍCIO DA TRILHA - 9H

Partimos de Jurerê Internacional em direção à Praia de Daniela. E de lá contornamos a Estação Ecológica dos Carijós, seguindo pela faixa de areia até o Pontal da Daniela. Da praia ao pontal foi sensacional! Ana comemorou a vista deslumbrante com Raquel.

Nosso líder Joel também ficou empolgado. O grupo era grande, cerca de trinta empolgados trilheiros. Por isso, não se fez de rogado e conclamou a todos para a descida do morro.

O percurso foi beeeeemmm tranquilo. Tanto que deu pra tirar fotos do cenário, dos casais, da fauna local...

No caminho para a ponta da Daniela, o sol resolveu aparecer. Caminhamos até o fim da praia, seguindo o mangue e o caminho do mar. A água estava calma demais, praticamente estática.

Neste momento da trilha, chegamos ao ponto onde podíamos ver o forte de Anhatomirim bem de pertinho. Com um pouco mais de vontade, mais fôlego e menos idade, dava até pra chegar nadando à ilhazinha...

Ilha linda vista de longe, minúscula e maravilhosa. O grupo do Fazendo Trilhas parou para registrar todos os ângulos possíveis dessa vista privilegiada. No caminho, muita gente recolhendo lixo deixado na praia por visitantes pouco educados.

 
A areia do ponto final do mangue fica assim, marcada na sua pequena extensão, toda trançada. Sentamos pra descansar na areia e logo percebemos que a maré subia rapidamente. E o sol foi nos deixando cada vez mais torrados.

Mangue da Reserva Ecológica dos Carijós, lugar onde reina a Sirilândia (nessa altura, a barriga começou a roncar) 

Lá do outro lado é Sambaqui. Voltamos perto das 3 da tarde, rumo ao PF mais próximo!! 

O almoço foi na Daniela, acompanhado de uma galera super animada. Fisicamente, a trilha não exigiu muito de nós. Afinal, quando cruzamos morros por aí com o pessoal do Fazendo Trilhas, já esperamos enfrentar serpentes mitológicas ou dar de cara com um pé-grande no caminho - tem que ter emoção! No fim das contas, o que vale mesmo é a companhia sde um pessoal que sabe aproveitar as boas coisas da vida.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Trilha da Lagoinha do Leste

Até mesmo as coisas mais recentes têm lá os seus clássicos. O clássico é um objeto cercado de aura, recheado de tradição, amado e seguido por um séquito de apaixonados. Entre as dezenas de trilhas pela Ilha de Santa Catarina, a mais tradicional, conhecida e comentada é a que leva à Lagoinha do Leste. Pergunte aos trilheiros e dez em dez recomendarão o destino.

INÍCIO DA TRILHA - 9h

Nossa aventura começou com um calor senegalês num domingo de cinema. Tudo porque a Raquel, devota-mor de Nossa Senhora do Céu Nublado, não acertou as coisas do clima com a manda-chuva lá de cima. Resultado: havia um sol pra cada um. Bravos e avessos a reclamações, nossos heróis mantiveram-se altivos e seguiram adiante.

O grupo era grande, cerca de 35 pessoas, mas não poderia ser diferente. Como dissemos, a Trilha da Lagoinha do Leste está na moda desde que surgiu: há centenas de anos e pelas mãos valorosas de nativos ancestrais. Partimos do Pântano do Sul, subindo o morro que leva ao Parque Municipal da Lagoinha. No começo, a subida é intensa, quase exclusiva para alpinistas. Depois, já na mata fechada, os caminhantes têm contato direto com a natureza. E por “contato direto”, queremos dizer picadas de mosquito, espinhos resvalando nas pernas, botas mergulhadas no barro, quedas apoteóticas, tropeções homéricos nas pedras...

Se a subida no morro é um teste de força e fôlego, na descida, o trilheiro exercita destreza, paciência e alongamento. Ensinam as grandes enciclopédias do trilhismo que subir sempre é mais fácil que descer: o impacto nos joelhos é menor, geralmente usamos os braços para buscar apoio e há sempre algum engraçadinho tentando animar a gente...

Antes da descida, pausa obrigatória para fotos. Um mirante foi especialmente construído no alto do morro. Ambientalistas queixam-se até hoje. Afinal, naquele lugar, ouvimos mais os cliques das máquinas fotográficas que os gorjeios dos pássaros, os silvos das ninfas e o farfalhar das asas das borboletas... 

A ladeira leva à praia. Isto é, deixamos o mirante e descemos o morro, chegando ao canto direito da Praia da Lagoinha. À esquerda, cerca de dois quilômetros de orla, com entradas estratégicas para a famosa Lagoinha do Leste. À direita, o não menos legendário Morro da Coroa. Animado, Joel, o guia do grupo, puxou a fila para mais uma escalada. Eufórico, disse: “Afinal, só o cume interessa!”. Os trilheiros entenderam a mensagem, ajeitaram as alças de suas mochilas, encheram os pulmões de ar e lá se foram todos. Epa, epa, epa! Todos, não. Quatro trilheiros decidiram ir direito à lagoinha. Não chegou a ser uma dissidência. Ana Paula sacou a velha desculpa de que estava com bolhas nos pés. Rogério não conseguiu argumentar pois estava sem fôlego. Marina e Marcelo assobiaram, fazendo cara de paisagem.

Lá vão os ilustres partintes. Cá embaixo, ficaram os insignes ficantes. Entendeu? Entendeu? (Por motivos de força maior não detalharemos como foi a aventura no Morro da Coroa. Podemos adiantar que todos os que subiram, desceram. Sãos e salvos).


Mas dizíamos que um clássico é um clássico, e nada tira o seu brilho. A Trilha da Lagoinha do Leste é um clássico. O visual que se tem de suas prainhas acalma até motorista-paulistano-em-tarde-de-engarrafamento-monstro-na-marginal. Uma capa verdejante ocupa dois terços da visão; o outro terço é o azul do céu. A água é salobra, multipovoada por alevinos de todos os tamanhos. Siris acinzentados caminham delicadamente de lado. As águas são calmas, sem ondas. A areia do fundo mais escura que a da praia.

Depois de quase duas horas, o grupo maior se juntou aos abnegados quatro que ficaram na lagoinha.  Foram momentos de intenso sofrimento coletivo, apenas comparáveis aos do desfecho da aventura (leia a seguir). Brisa refrescante, água fresca, petiscos e conversas maliciosas sob as sombras espessas da vegetação local... aiai...


Mas este relato de aventura não se chama assim à toa. Os momentos de tensão estavam apenas por vir. O primeiro deles foi a constatação de que todos ou quase todos estavam com seus reservatórios de água praticamente secos. “Como sobreviveremos?”, desesperou-se um trilheiro novato. “Oh, que cruel ironia! Estamos cercados por tanta água e nem uma gotinha é potável!”, arrancava os cabelos uma moça de olhos arregalados. Sereno, o guia Joel tentou acalmar a todos: havia uma mina d'água muito perto dali, bem no nosso caminho de volta. Restituída a calma e impedidos alguns suicídios, juntamos nossas tralhas, digo mochilhas e apetrechos, e seguimos pelos costões rochosos rumo à Praia da Armação. Sim, sim, desembocaríamos num outro ponto de chegada.

O caminho de retorno é mesmo muito diferente. Temos o Atlântico como companheiro no lado direito. As subidas são menos íngremes, mas o percurso é bem mais longo. Há também um extenso trecho sob mata, onde os perigos são outros...

Uma dúvida que assaltou parte do grupo foi de ordem humanitária: “O que faremos com os cachorros que nos seguiram desde a Praia do Pântano do Sul? Eles chegarão com a gente até a Armação e como irão voltar?” Um trilheiro animal arriscou um parecer: “Eles são de rua mesmo, são livres e não têm que voltar!” Outro mais pragmático brincou: “Podemos fazer uma vaquinha para pagar o ônibus de volta pra eles...”

No percurso pela mata, novo momento de tensão. O primeiro pelotão de trilheiros se distanciou muito dos demais. Chegamos a gritar para que reduzissem o ritmo, mas não fomos ouvidos. Apelamos para apitos, trazidos especialmente para momentos de tensão, mas eles não conseguiram nos ouvir. A pressa de acompanhar os líderes causou a primeira vítima: Marina (de preto na foto acima) deu um passo em falso, torceu o tornozelo direito e caiu. Todos paramos. Marina se contorcia de dor e o pé inchou automaticamente. Devidamente treinados para momentos de tensão, alguns trilheiros tentaram minimizar os danos. Ana, condecorada nove vezes pela Cruz Vermelha em missões de salvamento, sacou um tubo de Gelol e uma toalhinha parcialmente umedecida. (Na verdade, a toalhinha estava encharcada de suor. Marina está sendo informada disso justamente agora). Rogério, especialmente treinado pelos Bope, Mariners, Corpo de Fuzilheiros e GI-Joes, esfregou o unguento na colega enferma, e imobilizou o pé com a legendária toalhinha – que também tem experiência em salvamentos na Líbia, Iraque e Afeganistão. Na sequência, teve a ideia de trocar sua bota pelo tênis de Marina. Com isso, deixaria o tornozelo dela mais compacto, protegido pelo cano baixo da botinha, evitando novas torções. Medicada, Marina apoiou-se em outros bravos colegas e foi se arrastando pela trilha...


Já era quase cinco da tarde e havia muito ainda pelo caminho. Um terceiro momento de tensão: nossos víveres tinham terminado, ainda não tínhamos almoçado, em pouco mais de uma hora, começaria a anoitecer. As principais enciclopédias de trilhismo advertem que animais peçonhentos, feras carnívoras e bestas devoradoras de trilheiros costumam se alimentar depois das 18 horas... Para tornar o momento mais tenso ainda, reduzimos muito o ritmo para que Marina pudesse acompanhar e não ficar para o jantar...


Mas nem só de momentos tensos se faz uma aventura. Há também os heroicos, e o melhor deles foi protagonizado por Paulo que, piedoso da amiga, passou a carregar literalmente a contundida Marina nas costas. Em vários trechos de declive, por entre galhos e pedras, Paulo deixou sua mochila de lado para levar uma já desesperada Marina pela trilha. Atrás deles, Williams caminhava calmamente com seu legendário bastão. Praticamente um mestre Yoda, tentou acalmar Marina: “Forças encontrar você vai...”


Apesar de todos os percalços, o grupo inteiro desembarcou nas areias bem sedimentadas da Praia do Matadeiro, bem a tempo de assistir ao final da tarde. Caminhamos até a Praia da Armação, onde – como requer a tradição que os clássicos impõem – nos empanturramos com boa comida. Ah, é verdade. Também sorvemos toneis do precioso líquido da cor do ouro. Marina não mais se queixou.   Aliás, ninguém reclamou de nada. Nem mesmo do sol luxuriante e abrasador que nos tostou. Raquel não conseguiu garantir um dia nublado, mas suportou bem as brincadeiras maliciosas de todos e ainda demonstrou grandeza de coração, patrocinando uma porção de polentas para a mesa do lado. Mais um feito heróico nessa tarde épica...

 FINAL DA TRILHA - 18h

Video na praia da Lagoinha


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Com uma ajudinha dos céus

A trilheira Raquel, sócia benemérita do Fazendo Trilhas, tem fortes ligações com o divino. Na verdade, ela é íntima de Nossa Senhora do Dia Nublado, a padroeira dos trilheiros. Sempre que pede um dia propício para longas caminhadas, Raquel é atendida pela santinha. O Dois da Trilha descobriu o motivo: antes de sair de casa, a devota entoa a "Prece a Nossa Senhora do Dia Nublado", que divulgamos com exclusividade.

Madona do céu nublado,
Ouve a prece do trilheiro angustiado!
Senhora que, no céu, estais,
Fecha já as torneiras celestiais!

Madona do céu nublado,
Ouve a prece do trilheiro angustiado!
Santinha, manda as nuvens embora
Não trouxemos sombrinha, nossa senhora!

São Pedro e Santa Clara estão ao seu lado,
garantindo que o tempo fique mesmo nublado.
Livrai-nos da enxurrada e do barro
Lembrai que estamos a pé e não de carro.

Madona, sua vontade é como rocha
Não temos capa nem galocha...
Sem chuva e com sol acanhado
Será melhor caminhar com céu fechado

Porque confiamos na sua bondade
Deixa a trilha seca por nossa vontade
Madona, ouve então nosso recado
Antes que a gente fique encharcado.