domingo, 8 de janeiro de 2012

Na trilha da Lagoinha do Leste (again) e Morro da Coroa


Para fazer a trilha mais conhecida da Ilha você não precisa procurar muito. Dê um Google e aparecem mais de 33 mil resultados. Por isso, não vamos perder tempo dando indicações. Mais importante é contar como foi a aventura do último sábado, quando cerca de vinte amigos percorreram mais uma vez o caminho do paraíso.
Contrariando as expectativas, os comandantes do Fazendo Trilhas – Joel e Ana – não puderam liderar a trupe, pois estavam se aventurando em outras coordenadas. Contrariando a razão, topamos ser liderados pelo Tom Floripa: um perigo, é verdade, mas estávamos sem fazer nada em casa...
A proposta era fazer um mutirão de limpeza pelo caminho, retirando toneladas de resíduos sólidos deixados por contumazes porcalhões. Mas o que se viu ao longo do dia é que a missão fracassou: não houve coleta porque contrariando (de novo esse verbo? Não tem outro não?), porque surpreendendo a todos (ah! Ficou melhor agora!), surpreendendo a todos a trilha estava muito limpa. Daí que foi pro saco o propósito de falar de consciência ambiental como motivador do espírito de aventura. Falemos de outros temas: joelho, por exemplo.

Concentrado logo cedo na frente da Igreja da Armação, o grupo partiu para a Praia do Matadeiro, onde no final há o início da trilha propriamente dita. Dia de sol radiante, de ar levemente abafado, mas céu limpo. Na noite anterior, um dilúvio caiu sobre a cidade. No Facebook, alguns tentaram convencer que não seria uma boa fazermos o percurso (afinal, era o Tom Floripa que iria nos guiar...). Além do que poderia ter muita lama e condições acidentadas no trajeto, ou quedas de barreiras e sequóias, ou ainda a infestação de monstros devoradores de trilheiros... Nada disso! O dia estava perfeito para fazer atividade física, ter contato com a natureza e conviver com amigos. Duro é convencer os joelhos da gente...

A trilha da Lagoinha do Leste é um destino de paisagens estonteantes e vistas espetaculares. O caminhante vai recortando os morros, observando as encostas e se animando com os visuais que se descortinam a sua frente. Os passos são firmes, decididos até que, para desviar de uma árvore, você bate com o joelho esquerdo numa rocha. Neste instante, o sol mergulha no mar, a escuridão invade seus olhos e você enxerga... estrelas! Por um segundo interminável você imagina o estrago feito: ossos esmigalhados, cartilagem rompida e nervos dilacerados. No segundo seguinte, ainda sem coragem de abrir os olhos, você contabiliza o prejuízo: putz! O tendão patelar foi pro saco! Nossa! Cadê o meu menisco? Meeeeuuu! É isso o que sobrou de meus ligamentos? Mais um segundo e você já imagina o que acontecerá: vão tentar imobilizar a sua perna, pelo celular chamarão o helicóptero de resgate, haverá comoção no grupo, corre-corre no setor de emergência e manchetes nos jornais do dia seguinte. Que nada! Você é um aventureiro, um desbravador, um trilheiro, quase um super-herói. Você respira, engole o choro e ri amarelo para o colega ao lado que está com os olhos esbugalhados. Com o rosto parecendo uma uva passa, você ordena: “Vai na frente que eu quero fazer um xixizinho...”

Nada é melhor do que uma trilha para que a pessoa conheça o próprio corpo. Se você faz academia ou treinamento com os fuzileiros navais, saiba que isso é moleza. Se você é especialista em anatomia humana, numa trilha acaba descobrindo que não sabe nada. A trilha não é um programa de final de semana, não é um pretexto para a reunião de amigos, é um contato direto com o seu ser. (Ficou boa essa parte, hein? Vou evoluir um pouco mais...) Um contato direto com o seu corpo físico, com a consciência que tenta comandá-lo e com o espírito de determinação. Numa trilha, o organismo humano é submetido a rigorosos testes de fadiga, estresse e pressão social. Não bastasse a exaustão, tem as gracinhas que se ouve dos mais amigos quando você é o último a chegar ao destino se arrastando feito uma lagarto e com meio metro de língua pra fora...
Numa trilha, as paisagens paradisíacas servem como alento. Os sons dos pássaros e os perfumes locais despertam os sentidos, mas só você sabe quanto está cansado naquela subida íngreme ou desesperado ao passar rolando na descida. Mas, sabe, joelho é super importante...

Os joelhos compõem a principal articulação do corpo humano. Eles sustentam dezenas de quilos durante a vida toda de forma eficiente, e quando se queixam disso, você acha uma besteira. “Esse meu joelho não é de nada!” E você se esquece das muitas vezes que carregou a amada nos braços, sobrecarregando os SEUS amortecedores, dos momentos em que sustentava engradados de cerveja, pressionando as SUAS articulações.
Mas a Trilha da Lagoinha do Leste é a eleita por dez entre dez caminhantes não apenas pelo percurso. Tem a lagoinha propriamente dita - um recanto especialmente projetado para almas preguiçosas - , a larga faixa de areia na praia – convite a longas jornadas de sono -, e o mar – agitado, limpo, geladinho e irresistível. Tem ainda o Morro da Coroa, uma tentação para aventureiros incansáveis e espíritos indômitos.
É isso mesmo. Engatamos uma segunda marcha e desafiamos a gravidade novamente. Sim, eu sei, tem o joelho...

O Morro da Coroa assusta a quem olha pra cima. Não chega a ser um Kilimanjaro, mas a subida é íngreme, sem trilhas que permitam ziguezaguear até o alto. Tradução: tem que escalar, equilibrar-se entre pedras. Experientes, escolhemos o melhor horário para atacar o morro: meio-dia! O sol fritava os miolos de todos, curtia o couro dos pelados e esturricava o resto de razão que tínhamos preservado.
Como já dissemos, nada é melhor do que uma trilha para que a pessoa conheça o próprio corpo. Na escalada, você tem plena consciência corporal de ossos, músculos, nervos e articulações. Quando falta ar – quase sempre! -, você se lembra de que deveria ter comprado mais um pulmão naquela liquidação do mercado negro de órgãos. Você não mais sente o coração pulsar no peito, ele está em sua boca. A sua pressão arterial subiu até a estratosfera e você passa a enxergar pontos brilhantes do céu azul. A boca seca, você sua em bicas e pensamentos insanos assaltam a sua mente: apesar de tudo aquilo, você não quer parar, não pode parar e não vai parar até chegar.
Cientistas renomados das universidades de Boston e Merdon já efetuaram testes em trilheiros nessas condições e não souberam responder por que esses caras agem assim. Seus joelhos estão destroçados, mas a fibra permanece...

A escalada exige tempo. Determinação (ou teimosia) há de sobra. Cada trilheiro sobe conforme pode, importante é chegar, é desafiar limites pessoais. É vencer a si mesmo.
Assim, quando chegamos ao topo, ninguém contém o sorriso. Afinal, o mundo está a nossos pés...

O vento no rosto, o sobrevôo das aves muito próximo, o sol ao alcance da mão. No alto do morro, as rochas em forma de cunha estão encravadas no solo, formando uma bizarra coroa. Debaixo de algumas delas, descansamos por alguns minutos. Retomamos o fôlego. Lá de cima, a vista recebe todos os superlativos possíveis. Volúvel, o mar altera suas cores a cada centímetro observado. Sopra um vento morno e é preciso voltar.

Numa só palavra a subida é sofrida. Numa só palavra a descida é perigosa.
O escalador encaixa os pés nas fendas forçando uma espécie de degrau que permite equilibrar o corpo. Um passo por vez e a força da gravidade puxando pra baixo. Pedras soltas provocam ligeiros tombos. Nada grave. Escoriações. Mais do que a subida, a descida desafia os joelhos. O impacto nas articulações é maior. Toneladas sobre os ligamentos. Você respira e tenta ignorar os estralos que ouve a cada passo. Você apenas desce. Inspira-se no Atlântico, logo ali, piscando pra você... sacaninha... Depois de aportarmos na praia e beijar o solo, como João Paulo fazia, corremos para o mar. Água transparente, gelada, refrescante, limpa, esfuziante, espumante, sensacional. Um prêmio. Dá até vontade de beber...

Na água, com o corpo malemolente ao sabor das ondas, você faz como os jogadores de futebol após  uma batalha em campo: tratamento para relaxamento muscular. La-rá... vidinha mais ou menos...
Você lembra de como teve contato com a natureza: arranhou as pernas nos espinhos, levou galhadas no rosto, teve o vento nos cabelos, sentiu o perfume do mato molhado, o sol queimou sua pele, o mar refrescou sua pele, a pedra beijou seu joelho...
De lá, vamos pra lagoinha nos refrescar porque ninguém é de ferro... mais alguns banhos restauradores, regados a muitas gargalhadas, e afivelamos as mochilas novamente. Há a possibilidade de voltarmos pelo mar em embarcações contratadas. Mas que nada! Vamos mesmo pelo caminho que leva ao Pântano do Sul. É uma trilha, xará!
Mas e o joelho? Ora, pra que servem bolsas de gelo?

4 comentários:

  1. As trilhas podem estas razoavelmente livres de resíduos, mas nas dunas junto á Lagoinha tem lixo acumulado de muitos verões. E principalmente muitas garrafas de vidro e cacos sobre a areia. Conclusão triste: muitos usuários da Lagoinha (talvez a maioria)são os famosos pseudos ecologistas. Ou seja: falam muito mas fazem pouco. Também assim age a Floram que se diz defensora do meio ambiente mas nada faz para remover todo aquele lixo sob a alegação de falta de verba. Fico imaginando então que isto custaria muitos milhões de dólares. Será que teremos que fazer uma campanha do tipo: doe um real e salve a lagoinha? Estive lá em 02/jan/2012 para constatar tudo que estou relatando. Em tempo: um dos nossos participantes da caminhada até a Lagoinha teve uma insolação. Levamos até o posto de saúde do pântano do Sul e não fomos atendidos sob a alegação de que alí não era emergência. Nem examinaram a pessoa, nem chamaram samu e nem deram qualquer dica do que fazer. Simplesmente cruzaram os braços. Mas o postinho é bem limpinho e ostenta a já famosa ameaça na parede: "Desacato ao funcionário público é crime passível de prisão" E descomprimento das obrigações é o que?
    Como se vê Floripa é muito fachada mas há muito "lixo" embaixo do tapete.

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  2. Subi o morro da Coroa (31/03/2012). Aquela espirituosa descrição acima fala quase tudo que se passa naquela escalada livre. diria que nprática é um pouco pior. Mas como ningém é louco, a recompensa vale muito a pena. É a melhor vista da Praia e morros da lagoinha do Leste. continuamos por mais duas horas por toda costa dos morros do 'Pântano do Sul e acabamos voltando a trilha da Lagoinha-Pantano. Saindo inicialmente da Armação e Matadeiro, esta trilha completa pode ser feita em cinco horas inesquecíveis, por vários motivos. Gérson.

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  3. Ola eu Minha namorada temos algumas subidas no cambirela

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  4. Proxima noturna a subida me Chama no whatsapp 984078907

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