domingo, 15 de maio de 2011

Na trilha do morro da Pedra Branca

Contam os antigos que a Pedra Branca sempre foi considerada um ponto de orientação para viajantes e povos nômades. Desde os tempos mais remotos, a formação que se ergue a 460 metros de altitude funcionou como uma bússola, mostrando que o mar estava próximo e, com ele, mais fácil a sobrevivência. O pico do morro também serviria para avistamentos de OVNIs e pousos não frequentes de espaçonaves interplanetárias.
Tá certo, tá certo, essa é apenas mais uma lenda sobre o lugar.

Cientistas estimam que o Morro da Pedra Branca tenha cerca de 120 milhões de anos. Com predomínio de rochas calcáreas, o maciço é abraçado por vegetação de Mata Atlântica, notadamente orquídeas e bromélias. Paleontólogos já encontraram vestígios de fósseis animais, e algumas gigantes do petróleo disputam o terreno de olho no potencial dos recursos naturais.
Ok, ok. Isso também não é toda a verdade.
Mas descontando a ficção-nossa-de-cada-dia, a verdade mesmo é que o Morro da Pedra Branca é cercado por muitas histórias e é repleto de riquezas.

Para o Dois na Trilha, esta foi a primeira aventura trekker fora da Ilha de Santa Catarina. O Morro da Pedra Branca fica no município de São José, perto da divisa com a cidade de Palhoça, e em plena região metropolitana de Florianópolis. Apesar da proximidade, o local mantém características rurais, serenas e bucólicas. Para lá chegar, deixamos a capital catarinense pela BR-101 na direção de Porto Alegre (sentido sul). Poucos quilômetros depois, seguimos pela entrada para São Pedro de Alcântara, rumo à Colônia Santana, o hospital psiquiátrico da região.
Santana é o bairro que ajudou a batizar o hospital, mas não se resume a isso. Tem comércio local, igreja (foto), movimento de cidade do interior e uma comunidade com gente calma e hospitaleira. Deixamos os veículos em frente à Colônia Santana, e alguns dos trilheiros se sentiram tentados a rever velhos conhecidos, mas estávamos com alguma pressa. (Havia também o receio de que os visitantes ficassem retidos por lá...)

O grupo de bravos trilheiros estava desfalcado: a impagável e insubstituível Raquel desmarcou sua ida na última hora. Informações extra-oficiais davam conta de que tinha compromissos internacionais. Relatos não confirmados disseram que Raquel se assustou com o “tamanho da coisa”, isto é, com a altitude a ser alcançada na aventura. Diante das versões desencontradas, o Dois na Trilha se limitou a lamentar a ausência da trilheira, tentando compensar o grupo com a vinda do pequeno Vinicius, inexperiente no esporte mas mestre Jedi em videogames.


(foto: willians amâncio)

O grupo de 35 trilheiros caminhou pelo Sertão do Maruim (que já foi chamada de Imaruí) e enfrentou de início uma subida daquelas. A rua com calçamento simples e ladeada de casas de madeira é íngreme, e sua largura é compartilhada entre carros, motos e pessoas. A subida assusta, mas ela só é o começo da aventura. Imprópria para cardíacos, precisamos advertir.
A trilha do Morro da Pedra Branca é um dos caminhos mais conhecidos na grande Florianópolis, e o percurso que fizemos foi de 11 km, ida e volta, segundo informou Joel, nosso guia trilhístico. A aventura pode ser considerada de intensidade “difícil”, já que alterna trechos relativamente planos (como o da foto acima) com outros com muita ingrimidade. Nada que exija escaladas, mas se você fuma, vai sofrer com a falta de fôlego. Se não fuma, também vai penar (não se atreva a dar esse risinho besta).

Há recantos mágicos, com água límpida correndo e silvos de pássaros. Há também por boa parte do começo da trilha aquele característico odor de dejetos sólidos bovinos, que naturalmente adubam o solo local...

  
Existem os carrapichos selvagens e implacáveis da região, que se prendem aos cabelos dos caminhantes (foto), e que fazem o seu papel na natureza: ajudam a espalhar sementes. Entre os perigos locais, os trilheiros se deparam também com os mosquitos, chupadores contumazes do sangue alheio. Aliás, esses pequenos e insaciáveis insetos são míticos na Pedra Branca. O nome da região - Sertão do Maruim - leva o nome de uma dessas invencíveis espécies. E isso é verdade, pode checar


(foto: Paulo Casali)

Apesar dos ataques aéreos, das picadas traiçoeiras e de quase botarmos os bofes pra fora, a trilha é agradável. O ponto alto é o ataque ao cume. (Grande novidade dizer que o ponto alto é o alto do morro).
A vista não é só deslumbrante, mas cheia de nuances. De cima da Pedra Branca pode-se ver a cidade de Palhoça, parte de São José - inclusive a avenida Beira-Mar - e um pedaço de Florianópolis.
Como o morro fica muito perto do Aeroclube de Santa Catarina, os céus dali são frequentemente preenchidos com monomotores e planadores (foto abaixo); e como fica na direção do Aeroporto Hercílio Luz, aviões de carreira e jatos da Base Aérea passam por lá. Casais apaixonados de urubus pegam carona em "térmicas" e desfilam despreocupados.

(foto: willians amâncio)

Os trilheiros tiveram sorte desta vez. Não havia vento forte, e o sol insistia em aparecer diante de tantas nuvens. Sentar à pedra, conversar e assistir ao tempo passar traz uma sensação de paz indescritível...
Fazer um lanche tendo a proteção de um super-herói por perto também não tem preço...

(foto: willians amâncio)

Joel aproveita a ocasião e leva sua Ana às alturas... no registro, parece que ele está colocando um anel no dedo dela, mas é mera ilusão, provocada pela altitude. Na verdade, ele não precisa desses expedientes para demonstrar o seu amor... (som de violinos de fundo, por favor).

A trilha do Morro da Pedra Branca é uma aventura marcante. A rocha imponente - que de perto nem é tão branca assim... - se ergue a quilômetros, mostrando-se para todos. É um colosso que intimida, mas não é impossível vencê-lo. Chegar ao seu topo traz uma sensação vitoriosa. Fotografar o feito é obrigatório e irresistível, primeiro passo para o caminho de volta.

7 comentários:

  1. Gente, ja falei que adoro ler vcs né?! Que post maravilhoso, com detalhes tão precisos que faz meros leitores mergulhar na aventura que vcs percorreram, que delicia!
    Senti falta de estar com vcs, e não, não tive compromissos internacionais, só estava cansada e um pouco desmostivada a subir o morro (que chegou sim a me intimidar, mas jamais me faria desistir de tentar chegar ao topo), ou seja, precisamos marcar um repeteco viu, vcs topam??!! Adorei as fotos do pequeno Vinicius, que super herói mais especial vcs levaram hein!
    Saudades enormes de trilhar com vcs!!!
    Espero ve-los em breve!
    Bjãoooo

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  2. Vamos marcar um repeteco sim, com certeza! A gente fica meio esbaforida mas cedo ou tarde chega lá no topo hehe
    Bjks!!

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  3. Olá povo trilheiro,
    Parabéns pelo blog, leitura super agradável, divertida...
    E que venham os próximos desafios para o Dois na trilha, que na realidade tem sido Três na Trilha, hahahahaha

    beijos

    JU

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  4. Pois é Ju, estamos pensando em mudar o nome do blog pra 2 e 1/2 na trilha rsrs. Bjs!

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  5. olá
    gostaria de fazer contato c vcs - adoramos fazer trilhas e seria maravilhoso ter uma turma táo doida qto nós ( somos em 3 ) meu marido -eu e um amigo/irmáo q nos acompanha em todas as aventuras....meu e-mail ivonebluefish@gmail.com

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  6. Olá galerinha, estamos indo dia 23/06/2019, bora?

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