domingo, 27 de março de 2011

Ilha do Campeche - parte 3



Fotos: Paulo Casali

Ilha do Campeche - Parte 2

Registros dos trilheiros Paulo e Williams no sábado, na Ilha do Campeche!










Fotos: Williams Amâncio

Na trilha da Ilha do Campeche

INÍCIO DA TRILHA - 9:30h

No episódio anterior, dissemos que "caminhar em grupo sempre é melhor". Uma aventura vale mais quando se tem os amigos por perto. E mesmo quando as coisas não dão muito certo, sempre se tira frutos disso. O grupo é importante, mas dentro do grupo tem a galera. A galera, ensina os grandes compêndios sociológicos, a galera é o ajuntamento social onde surgem as piadas internas, fortalecem-se os grandes laços de amizade, compartilham-se segredos infindáveis... Pois em nome da "galera", deixamos de fazer a Trilha do Travessão, organizada pelo Fazendo Trilhas, e partimos para um roteiro alternativo. É que nem todos os membros da galera conseguiram vagas no passeio do FT e por isso fizemos do Plano B a aventura do sábado, 26.

O tal Plano B era simplesmente conhecer a mítica Ilha do Campeche. E não é que a saída foi simplesmente sen-sa-cio-nal? Mas como já ensinou o rapaz dos becos de Londres, "vamos por partes".

Destino: Ilha do Campeche.
Transporte: barco da Associação dos Pescadores Artesanais da Praia da Armação
Duração da travessia: cerca de 40 minutos
Condições meteorológicas: céu nublado, mormaço e ameaça de chuva a qualquer momento
Condições do mar: levemente mexido com ventos fortes, gelados e úmidos
Ocorrências na travessia: nenhuma e o convés continuou limpinho

 
Pode-se ir à Ilha do Campeche de três diferentes pontos de embarque:
1. Direto da praia do Campeche, em botes menores, de forma mais rápida (5 minutos) e a um preço em torno de 50 reais por pessoa. Cruza-se o mar rapidamente, e os passageiros molham-se mais frequentemente.
2. Da Barra da Lagoa, o percurso é o maior e leva em torno de hora e meia. Só o trajeto já vale como um passeio.
3. Da Praia da Armação, a 35 reais por pessoa, em baleeiras ancestrais que costeiam as praias da Armação, Morro das Pedras e Campeche, e depois em ângulo reto, chega-se à Ilha do Campeche.

 
No registro, parte da galera: à esquerda, Williams, a misteriosa e recém-integrada à trupe Marina, e o "menino do Rio" Paulo, um carioca que está quase ganhando o passaporte manezinho... além deles, a galera tinha ainda Ricardo, Rogério, Ana e o pequeno Vinicius

Logo no início da aventura, Ana tremia de frio no convés do barco, temendo que o tempo virasse e que tivéssemos chuvas no sábado. O "pressentimento" se dissipou quando ela viu o nome da embarcação que nos levava à Ilha do Campeche. Era o barco "Pirata". Quer dizer: estávamos amparados pela sorte e pelos bons ventos. Jack Sparrow estava conosco...

Quase, quase lá... A Ilha do Campeche é uma formação protegida e existem diversos cuidados para preservá-la. Por dia, até 800 pessoas podem visitá-la. Há um rigoroso controle sobre lixo e dejetos que podem ser deixados por lá. Não se pode "trazer lembrancinhas" de lá. Nem se deve alimentar os quatis...

A primeira coisa que fizemos ao desembarcar na Ilha do Campeche foi reconhecer o perímetro, o que significa identificar se existe algum bar ou restaurante nas cercanias. Mapeamos duas opções. Ficamos com o "Restaurante da Ilha", que pertence ao Poeta. Como era de se esperar também, o pequeno Vinicius deu seus berros primatas, como quem celebra os bons momentos.

 
A Ilha do Campeche tem uma pequena porção de areia apenas. É por lá que se desembarca. Nos demais lados da ilha, apenas costões rochosos. Os barcos chegam pertinho da praia, mas não há píer para atracação. Essa medida possibilita duas coisas: a) restringe-se o número de barcos, reduzindo o impacto no mar; b) faz com que os visitantes comecem a jornada, molhando as canelas - às vezes, mais... - nas águas geladinhas.

 
Foto oficial da galera. Ana não aparece pois está atrás das lentes...

Por causa deste registro, quase este blog mudou de nome. De Dois na Trilha passaríamos para Two and Half Trekkers. Chegamos a considerar a ideia, mas acho que Charlie Sheen não gostaria nem um pouco da brincadeira...

Uma das visões privilegiadas da praia na Ilha do Campeche é a sucessão de planos montanhosos. Note que é possível ver dois ou três planos de morros, quase formando uma fila. Para se ter uma ideia, dá pra ver até mesmo a Pedra Branca, na Grande Florianópolis

Algumas opções de lazer na Praia do Campeche: a) fazer as trilhas monitoradas pela mata, conhecendo a flora e a fauna locais; b) mergulhar nos rochões e apreciar peixes, algas e demais objetos submersos; c) lagartear nas areias brancas, limpas e reconfortantes; d) espreguiçar-se nas cadeiras do bar e sorver quantidades industriais de cerveja e caipirinha.
Williams e Ricardo se aventuraram a fazer a atividade (b). Depois, fizeram a atividade (a), com Ana, Rogério e Vini.
Paulo - sem camisa - e Marina - com camisa, branca - optaram pela alternativa (d), mas não em doses industriais.

Por conta das chuvas das últimas semanas, apenas uma trilha estava em condições de aproveitamento no sábado: a Trilha da Pedra Fincada. É um caminho bem sinalizado, bem conservado, que dura meia horinha e só pode ser feito na companhia dos experientes guias. Charles, que estava conosco na vinda da Armação - veja a primeira foto deste post -, foi nosso líder na atividade.

Antes de ter contato com espécies nativas e exóticas, fomos apresentados ao Seu Cardoso, considerado uma espécie de guardião da ilha. Simpático, sorridente e conversador, Seu Cardoso contou que frequenta a Ilha do Campeche há mais de cinquenta anos. Durante muito tempo, pagou com as mensalidades da Associação Couto de Magalhães, que ajuda a conservar o local, "mas quase nunca vinha pra Ilha".
De uns tempos pra cá, vem morando no local. "Não volto pra casa há mais de um ano. Minha mulher me liga quatro vezes por dia. Mas ela está com osteoporose e já não aguenta mais embarcar e desembarcar", explicou.
Seu Cardoso não pareceu muito triste com esse autoexílio. Williams e Rogério se mostraram simpáticos à ideia...

O pequeno Vini é um tubarãozinho sedutor. Não começou a trilha sem um abraço e uma foto com uma das monitoras... esse moleque!! 

Figueira Mata-Pau, Tiê Sangue, Gravatá, Paina, fragatas, atobás, orquídeas, palmeiras e bromélias diversas estão pelo caminho. Uma turma de galinhas d'angola também apareceu...

Passamos por basicamente dois ambientes: a Mata Atlântica, densa, úmida e envolvente; e o Costão Rochoso, agreste, ventoso, com vegetação arbustiva e visuais impressionantes.
Lá embaixo, as rochas onde os ancestrais habitantes afiavam suas ferramentas e armas...

Tá vendo como o tempo nublado não causou nenhum transtorno na aventura? Também com uma paisagem dessas...

Passos pela trilha, olhares deslumbrados.

 
A vedete da trilha, a tal Pedra Fincada. Segundo Charles, o guia, ainda é misteriosa a sua origem e função. Talvez a sombra da pedra servisse como ponteiro de um relógio de sol. Talvez...

Não propriamente um novato, o pequeno Vinicius se sentiu muito bem ambientado na Ilha do Campeche. Subiu em pedras, fez a trilha, devorou batata frita e ainda correu pelas areias da praia como seus amigos Alex, Marty e Mort, do desenho Madagascar. Afinal, como diz a musiquinha: "Eu me remexo! Eu me remexo muito! Eu me remexo! Eu me remexo muito!"

Por uma questão de segurança, Ana segura Vini (pelo pescoço!), para que ele não salte no mar... sabe como é...

Antes de deixarmos a Ilha do Campeche, quatro horas depois de termos desembarcado, fomos visitados por ilustres invasores: os quatis. Esses pequenos mamíferos não são nativos de lá, e foram introduzidos pelo homem. São como pragas: reproduzem-se como coelhos, devoram tudo o que existe pela frente, são fofinhos, o que faz com que quase todo mundo os alimente. Dizem que, por ano, são retirados da ilha quase trezentos exemplares desses bichinhos para que não haja desequilíbrio ambiental.


Que dar um 360 graus na praia da Ilha do Campeche? Faça isso assistindo ao videozinho, mas cuidado com "a surpresa final"...

Por falar em final, a aventura do sábado não poderia terminar de outra forma se não na forma de confraternização. De volta à Armação, nos lançamos à praia vizinha, a do Pântano do Sul, com destino ao Restaurante do Arante, um dos mais tradicionais da Ilha de Santa Catarina.
Eram quase quatro horas da tarde, mas isso não é bem um problema por lá. Fomos muitíssimo bem-recebidos com cachacinhas de cortesia e um banquete inesquecível: bifê de peixes e frutos do mar.
De forma solene e ordenada, fizemos uma fila diante de tigelas, gamelas, panelas repletas de camarões, ostras, mariscos, berbigões, peixes diversos, lulas, pirões, saladas e demais acompanhamentos de fazer babar.
(Por favor, leitor, limpe o queixo...)
Concentrados, fizemos silêncio por minutos. A mesa era só gemidos e interjeições prazerosas.
Plenamente satisfeitos, os convivas se desmancharam em adjetivos e descobriram o que significa um Plano B: Plano Bárbaro!

 FINAL DA TRILHA - 15h

segunda-feira, 21 de março de 2011

Na trilha do Morro do Pântano do Sul

 
Foto oficial da galera do Fazendo Trilhas!

INÍCIO DA TRILHA - 10h

Para caminhar não é preciso de muita coisa.
Basta um par de pernas, um par de pulmões mais ou menos saudáveis, uma porção generosa de vontade, boas doses de disposição, algum destino para seguir, duas partes de paixão, três injeções de ânimo, toda força vital, bastante entusiasmo e total ausência de preguiça. Foi o que dissemos: pra caminhar não é preciso muita coisa!

 
Você pode caminhar sozinho ou acompanhado. Para a primeira opção, reúna os ingredientes acima, bata bem e siga em frente. Para a segunda, já é mais complicado.

Isso porque caminhar com alguém vai além de sincronizar passos, de ter com quem fazer sombra. Caminhar junto é fazer conjunto.

 
Você pode caminhar em dupla, em trio ou até formar um quarteto. Mas quando dá seus passos com mais que isso já está em grupo, e aí o percurso ganha outras dimensões. Pode ser uma romaria, uma procissão, uma marcha, uma passeata. O cenário vai desfilando no vai-e-vem de pernas e braços, o horizonte balançando na altura dos olhos, e o caminho vai se fazendo assim: no plural.

 
Esse senso de caminhar em grupos é ancestral, tão antigo quanto andar em duas pernas, aliás anterior a isso. Em matilhas, perseguíamos presas. Depois, equilibrados em duas patas, passamos a perseguir sonhos, individuais e coletivos. Percebemos que o que importava mesmo eram as relações, a teia de acontecimentos que ligava nossos caminhos.

 
Acompanhados, nossas paisagens ficaram mais bonitas, pois passamos a comentá-las...

Nossos percursos, por mais longos, tornaram-se mais suportáveis...

Aliás, passamos a fazer parte da paisagem!

No andar coletivo, predomina um espírito comum. Os mais afoitos reduzem seu ritmo para esperar os mais lentos. Os retardatários apressam o passo para não "atrasar mais" a caminhada. Alguém estende a mão para subir numa pedra. Outro alguém divide a água do cantil. 
Por isso que não se trata de uma corrida, de quem chega antes. O que conta é quando todos chegam. O percurso foi só um pretexto para o convívio...

Sem o espírito coletivo, a paisagem fica vazia.

O objetivo se limita a sujar os pés, deixar um rastro.
Na mochila, vem a amizade, a parceria, o companheirismo, o afeto, e nada disso deixa a bagagem mais pesada. Um grupo é diferente de um bando. O primeiro tem energia e sinergia. Já um bando é um aglomerado de indivíduos, sem elos, sem laços, desnorteados, desorientados, espalhados.
No grupo, o espírito é coletivo. No bando, o espírito é de manada. No primeiro, todos se preservam; no segundo, é cada um por si...

As passeatas, as procissões e as trilhas podem ser feitas por grupos ou por bandos. O ponto de chegada pode ser o mesmo, mas a jornada é bastante diferente.

Porque homem nenhum é uma ilha, acreditamos que caminhar em grupo é a melhor forma de ir adiante. Um passo depois de outro, com um sorriso no meio. Foi o que dissemos: pra caminhar não é preciso muita coisa! Pra andar em grupo, é preciso querer estar acompanhado; é preciso lembrar que, mesmo que não se alcance o objetivo pretendido, ao menos, a viagem e a parceria valeram a pena...
FINAL DA TRILHA - lá pelo meio-dia?

terça-feira, 8 de março de 2011

Na trilha de Naufragados

Ora, ora... finalmente, este blog voltou a honrar seu nome. Por isso, mesmo com o reinado de Momo, nos precipitamos a fazer uma aventura que desconhecíamos, apenas nós dois. A despeito do que já disseram nossos críticos, não ignoramos as normas de segurança nem tampouco arriscamos nossas preciosas vidas. Apenas colocamos uma dose extra de coragem na mochila e lá fomos nós...

 INÍCIO DA TRILHA - 13:29h

Nosso destino na segunda-feira de Carnaval foi a já mítica Praia dos Naufragados, no extremo sul da Ilha de Santa Catarina. Para isso, rumamos de carro até a Caieira da Barra do Sul, que fica bem depois do bucólico Ribeirão da Ilha. Isso significa que para chegar ao começo da trilha, os aventureiros devem rodar cerca de 40 quilômetros do centro!

Se você for de carro até a Caieira, deixe seu automóvel num dos estacionamentos que cercam o ponto final do ônibus. Há uma infraestrutura bem básica no local. Se for de ônibus, basta pegar o que leva até a Caieira e descer no ponto final. A partir daí é contigo. Respira e vai, meu filho!

O início do caminho lembra menos uma trilha e mais um passeio rural. A vegetação é quase urbana, existem grandes trechos de pastagem e não é difícil encontrar gado fazendo o seu trabalho - engordar!

Anote uma dica do Rogério para esta trilha: se você tem espaço na mochila, traga um pulmão a mais. Você irá precisar, logo após sobreviver a alguns trechos de subida bem íngreme...

 
Ana dá outra dica, igualmente importante: quinze minutos depois do início da trilha, há uma bifurcação. Se você não quer se cansar tanto, pegue o caminho à esquerda: a trilha é bem aberta, sem grandes solavancos e mais curta. Agora, se você gosta de aventura e de grande impacto, pegue o caminho à direita e, mais pra frente, opte pela direita novamente.

Ao escolher o percurso hard, você não chega impunemente à praia, mas encontra o Farol de Naufragados, uma construção do século XIX, reformada, e que permite ter visuais que compensam...

Na entrada do Farol, uma placa oferece explicações técnicas sobre a construção. Mas poderia haver informações mais históricas, né? Do tipo, o Farol foi construído na ponta da Ilha para evitar invasões espanholas. Por isso, fizeram um forte numa das ilhas próximas, para ter um corredor polonês...

Os aventureiros vão se esgueirando pela mata e só percebem que estão próximos do Farol quando estão diante dele. É surpreendente! Não se trata de uma ruína, mas poderia haver maior conservação por parte dos responsáveis.


Dentro do sítio do Farol, os visitantes têm acesso a uma plataforma elevada de madeira. Ao subir as escadas, a vista que se tem à esquerda é esta: a Praia de Naufragados já pode ser avistada.

Tem gente que vai por terra e tem os que vão pelo mar. No mirante privilegiado, observa-se um vai-e-vem de lanchas e pequenas embarcações. Ignore os personagens da foto acima e veja entre eles um botezinho motorizado. Pois é, havia dois mergulhadores explorando o costão naquela tarde. Ê vidinha mais ou menos...

Ana não consegue disfarçar seu sentimento de vitória: "Consegui finalmente arrancar esse homem de casa. E viemos parar justamente aqui!"

Embevecidos pelo visual, pegamos o caminho que nos levaria à Praia dos Naufragados. No caminho, um flagrante: uma aranha devora sua presa. Foi aí que nos demos conta: já havia passado do almoço e estávamos com o pé na estrada ainda...

Pegamos um caminho bem tortuoso, pedregoso e levemente escorregadio. Foi a pior forma de chegar à praia. Bem, chegar não foi o problema. Voltar é que foi. Afff....

Ana celebra a chegada à praia. Sua alegria é contagiante. Há duzentos anos, os sobreviventes de um trágico naufrágio chegaram àquela faixa de areia pelo mar. Esbaforidos, exaustos, feridos, mas exultantes por terem sobrevivido. (No final da trilha, Rogério repetiria esse comportamento)


Mesmo isolada, a Praia dos Naufragados recebia muitos turistas e visitantes naquela tarde de segunda.

Se a gente tivesse combinado, não teria dado certo! Nas areias de Naufragados, encontramos os trilheiros Cris e Marcio, companheiros de aventuras pelo Fazendo Trilhas. Puro acaso!

Na faixa de areia, nos deparamos com o que sobrou de uma colônia de águas-vivas: gelatinas derretendo ao sol...

Suba o cursor e vá até a nona foto neste post. Lembra daquela em que víamos do Farol a Praia de Naufragados? Pois é, o registro acima é o contraponto àquela foto. Olha o Farol ali!

Sorridentes, vitoriosos e triunfantes, posamos para o registro final. Claro que era apenas a metade do caminho e não vamos mostrar o que veio na sequência: Ana levando um tombinho, Rogério quase desmaiando sem fôlego, Ana puxando Rogério pelos cabelos pela trilha...

FINAL DA TRILHA - 16:15h